Índice
Hoje famosa, muita gente não sabe que a tapioca foi inspirada a partir do preparo do bejú, esse alimento milenar de origem indígena. A tapioca na verdade é um bejú.
O bejú, também conhecido como beiju ou biju, nada mais é do que um derivado da mandioca, feito através da fécula, amido extraído da raiz, também chamado de polvilho doce ou goma, dependendo da região do Brasil. A partir da fécula, também se obtém a farinha de tapioca, cujo a consistência é mais granulada.
Com esse polvilho, um pó branco, fino, inodoro, insípido e que produz ligeira crepitação quando friccionado entre os dedos, é possível fazer diversas preparações, como mingaus doces ou salgados, bejús, tapiocas, pão do índio, chibé.
Quando a mandioca é nova, são ótimas assadas ou cozidas, mas depois de 06 meses, quando ficam bem duras, são bem aproveitadas para fazer farinha e fécula.
Segundo o pesquisador da USP, Alessandro Alves-Pereira, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, (Esalq), a mandioca foi domesticada há mais de 9 mil anos no Brasil a partir do sudoeste da Amazônia, disseminando-se entre as etnias indígenas que viviam por aqui.
Fernão Cardim, no livro Tratados da Terra e Gente do Brasil, descreve suas impressões sobre a mandioca e os saberes indígenas:
“Contém muitas espécies e todas se comem destas raízes exprimidas e se faz a farinha, e uns certos beijus como filhós, muito alvos e mimosos. Esta mesma raiz depois de curtida na água feita com as mãos em pilouros se põe em caniços ao fumo, onde se enxuga e seca de maneira que se guarda sem corrupção (…) piladas em uns pilões grandes, fica uma farinha tão alva, e mais que de trigo, da qual misturada em certa têmpera com a crua se faz uma farinha biscoitada que chama de guerra, que serve aos índios e portugueses pelo mar, e quando vão a guerra como biscoito. Desta mandioca curada ao fumo se fazem muitas maneiras de caldos que chamam ‘mingaus’, tão sadios, e delicados que se dão aos doentes de febres em lugar de amido, e tisanas, e da mesma se fazem muitas maneiras de bolos, coscorões, tartes, empenadilhas, queijadinha de açúcar, etc.”
O indígena André Baniwa Hipattairi, da etnia Baniwa, Rio Negro, Amazonas, publicou em seu Twitter uma foto do bejú, como eles chamam.
Bejú – alimento milenar indígena Baniwa!!! pic.twitter.com/WJ0WsCwnR0
— André Baniwa Hipattairi (@ANDREBANIWA) August 3, 2020
Entre os brasileiros, mais popular e antigo é o biju, famoso biscoito doce em forma de canudo, geralmente vendido em mercados de cereais ou nos faróis de grandes cidades ou nas praias, principalmente no Nordeste.
Esse tipo de biju é uma delícia, lembra muito o bejú indígena na aparência e principalmente se for feito com polvilho doce, porque alguns são feitos de farinha de trigo, mas no sabor, parece mesmo é um biscoito crocante com bastante açúcar e manteiga.
De qualquer maneira, fazendo jus ao nome, a origem desse doce tão comum está no preparo indígena, que foi incorporado à vida cotidiana do brasileiro, tão incorporado, que por vezes nem lembramos qual sua raiz ou identidade.
Para fazer o bejú, você pode comprar o polvilho no mercado ou processar manualmente a mandioca e fazer a fécula ou a goma.
Para isso, um dos processos, consiste em ralar a mandioca, que vai soltar muito líquido, espremê-la até retirar todo o caldo e após seca, passar pela peneira. Está pronta.
Em processos mais elaborados, tritura-se a raiz, desintegra, purifica, peneira, centrifuga, concentra, seca e embala.
Depois, é só usar como a imaginação mandar.
No vídeo abaixo é possível assistir a uma das formas de preparo, observando o trabalho de um casal simples, ensinando o passo a passo de como fazer a goma de mandioca.
É trabalhoso, começa descascando a mandioca, se ela estiver mole, é possível deixar de molho por muitas horas e depois peneirar de forma que ela se desmanche, mas se já for uma mandioca bem dura, será necessário ralar. Depois de ralada ou desmanchada na peneira, precisa retirar toda a água da mandioca, eles utilizam um pano para torcer e espremer bem a mandioca, depois é peneirada. Pronto, a goma já pode ser utilizada.
Ainda no Youtube, também é possível ver alguns vídeos mostrando a preparação do bejú de forma artesanal e em alguns, até mesmo por indígenas, que basicamente consiste em tostar uma massa fina de fécula de mandioca.
Para fazer a tapioca, basta hidratar a fécula da mandioca e depois tostar em superfície aquecida.
Viva a nossa tradição indígena. Viva o bejú!
Talvez te interesse ler também:
Água de Bétula: desintoxica, aumenta imunidade e outros usos medicinais
Compulsão alimentar ou fome emocional? Reveja a sua relação com a comida
Salgadinhos tradicionais veganos: esfiha, quibe, coxinha, risoles e muito mais
Categorias: Alimentação, Alimentar-se
ASSINE NOSSA NEWSLETTER