Mercado de orgânicos cresce, mas não no Brasil


Em muitos países do mundo, sobretudo nos europeus, a produção dos alimentos orgânicos é cada vez mais valorizada.

Há redes de supermercados especializadas em produtos orgânicos, seções específicas em todos os mercados populares, bem como lojas de cosméticos naturais e orgânicos. Essa variedade não apenas faz bem à saúde dos consumidores, como também impulsiona a economia dos países que investem nesse nicho.

Na França, por exemplo, o setor orgânico não para de crescer, como informa o FranceInfo. Tudo começou devagar, em pequenas fazendas, mas agora os grandes produtores perceberam que vale a pena investir em produtos orgânicos. Em Essonne, Jérôme Chenevière é um produtor de grãos com 200 hectares de terra. Há um ano, a sua propriedade vem se convertendo em totalmente bio. Se antes eram usados herbicidas de glifosato para cultivar trigo e cevada, hoje ele usa um cultivador mecânico para remover ervas daninhas.

Chenevière destaca que:

“Eu prefiro meu jeito de trabalhar hoje. A vantagem é que nós matamos apenas esta planta, e não colocamos quaisquer produtos fitossanitários em toda a plantação. Temos mais luvas para usar, mais máscara. Já não temos as restrições meteorológicas da aplicação de pesticidas”.

No ano passado, em Île-de-France, as conversões de fazendas orgânicas cresceram 50%. Mas esse fenômeno já se observa na realidade em todo o território francês.

“A produção orgânica dobrou em cinco anos, o maior aumento já registrado. Existem atualmente 2 milhões de hectares cultivados em orgânicos, ou seja, 7,5% do total da área agrícola na França“, explica a jornalista Margaux Subra-Gomez.

Em relação às regiões com as fazendas mais orgânicas na França, as campeãs são Occitânia, Nova Aquitânia, Auvergne-Rhône-Alpes e Provença-Alpes-Côte d’Azur.

“As fazendas que produzem frutas, legumes e aquelas que fazem as vinhas são onde se produz mais orgânicos. Em termos de pecuária, no entanto, a percentagem de orgânicos permanece tímida: apenas 2% das fazendas de suínos são orgânicos”, acrescenta a jornalista.

Brasil na contramão

Infelizmente, o Brasil está totalmente na contramão dessa tendência mundial de investir em produtos orgânicos. Chegamos a um ponto em que uma cadeia de mercados sueca baniu os produtos brasileiros e está convocando outros estabelecimentos a fazerem o mesmo, até que o Brasil reveja o uso indiscriminado de pesticidas em suas plantações.

A rede sueca de supermercados Paradiset anunciou nessa quarta-feira (5) um boicote a todos os produtos do Brasil, visto que dos 197 agrotóxicos já autorizados este ano pelo Ministério da Agricultura, 26% são proibidos na União Europeia, em decorrências dos riscos que eles representam para a saúde humana e o meio ambiente.

O presidente do grupo Paradiset, Johannes Cullberg, falou ao site português RFI que:

“Quando li na imprensa a notícia da liberação de tamanha quantidade de agrotóxicos pelo presidente Bolsonaro e a ministra (da Agricultura) Tereza Cristina, fiquei tão enfurecido que enviei um e-mail a toda a minha equipe, com a ordem ‘boicote já ao Brasil'”.

A Paradiset, que é a principal rede de produtos orgânicos da Escandinávia, já retirou de suas lojas quatro diferentes tipos de melão, melancia, papaia, limão, manga, água de coco e duas marcas de café, além de uma barra de chocolate que contém 76% de cacau brasileiro em sua composição.

Cullberg lamentou que o Brasil, que já teve uma das mais progressistas estratégias de alimentação do mundo, esteja agora andando para trás expondo consumidores a tantos perigos. Ele destacou, ainda, que a política alimentar brasileira não está levando em consideração consumidores, produtores e o planeta.

Quem sabe com um boicote internacional o governo federal acorde e poupe a nós, brasileiros, e o mundo todo dessa overdose de veneno.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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