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O Assentamento Mário Lago, do MST em Ribeirão Preto (SP) desenvolveu um projeto interessante – cesta básica de alimentos orgânicos a preço justo. Os produtos da cesta básica orgânica são aqueles que estão na época. Os preços são os de produção, sem o acréscimo que os intermediários aumentam em cada “volta do caminho”, do produtor até o consumidor final.
Como conta o professor Fulvio Iermano, geógrafo militante do movimento Slow Food Brasil, um dos 100 consumidores permanentes da cesta orgânica, os benefícios são muitos: para além da cesta semanal de produtos agroflorestais frescos e de ótima qualidade, com a certeza de serem orgânicos e muito baratos, “o sistema vai muito além de uma relação de mercado, cria laços até de amizade. Para mim, a cesta não tem apenas alimentos saudáveis, ela dá a possibilidade de estabelecer relações humanas baseadas em solidariedade”.
Marcos Palmeira apresenta o Assentamento Mário Lago:
Em Ribeirão Preto as cestas agroflorestais têm seu conteúdo determinado pelos produtores – há produtos, estão na cesta – e os clientes fazem sua adesão pela página do facebook do assentamento, têm a oportunidade de conhecer a produção e participar da assembleia que decide sobre os preços que serão praticados em cada ano:
“Os alimentos são produzidos sem agrotóxicos e insumos químicos, vêm de um manejo agroflorestal. Para mim, é muito mais que um orgânico certificado de prateleira, que eu não conheço a origem, a rastreabilidade”, diz Fulvio.
Outra cliente permanente das cestas agroflorestais é a bióloga Fernanda Gamper Vergamini Costa que ressalta uma das vantagens do sistema: “Não me importo de não escolher o que vem, eu gosto de receber o que está na época e, com isso, diversificar minha alimentação e conhecer novos alimentos”.
foto: fbcdn.net
Um pregão semanal acontece, toda segunda-feira cerca de 40 agricultores, na sede do assentamento, onde se reúnem os agricultores adeptos dos sistemas agroflorestais (SAFs) para definir os preços e os produtos que serão oferecidos e a que preços, para diversificar o conteúdo da cesta semanal.
“Todo o planejamento é feito de forma participativa com os produtores e, um final de semana por mês, eles abrem a produção para visitas”, diz Fernanda.
São oferecidas duas modalidades de cestas – com 5 quilos e 8 quilos – ao preço mensal de R$ 140 e R$ 180, respectivamente.
Zaqueu Miguel de Carvalho, produtor do Assentamento Mário Lago, explica a lógica do preço justo, que não segue as ditadas pelo mercado.
“Nós sentamos com os consumidores e definimos os preços que vão vigorar durante todo o ano, independentemente do que alterar no mercado. Isso tem dado muito resultado, porque, com a venda direta, eliminamos o atravessador do sistema. Quem determina o preço é o custo de produção.”
O sistema de produção agroflorestal foi implantado com o apoio da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e significou um importante desenvolvimento para os assentados de Ribeirão Preto.
Este assentamento foi implantado nas terras de uma antiga fazenda produtora de cana, desapropriada em função de processos trabalhistas e ambientais. No início da sua implantação, os assentados assinaram “uma parceria com o Ministério Público Estadual propondo que 35% da área fosse de reserva legal, ao invés dos 20% determinados por lei. Os 15% a mais seriam utilizados para os SAFs, Sistema Agroflorestal.
A mudança de mentalidade foi um choque para os assentados que custaram a entender como seria esse novo sistema:
“A fazenda era totalmente tomada pela cana. Para começar a produção agroflorestal, tinha de ter um capinal, deu um choque de ideias. As famílias queriam plantar cana, e nós propusemos plantar capim”, relembra Zaqueu, que hoje produz, no sistema agroflorestal, galinhas caipiras e horticultura. “Produzo todo tipo de legumes e folhas e tenho um sistema de fruticultura com banana, manga, acerola, goiaba, abacate, limão, café e eucalipto para produção de madeira.”
Os agricultores assentados participam também de iniciativas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA),o Programa Nacional de Merenda Escolar (PNA) do governo federal, e fornecem seus produtos à crianças da merenda escolar de Ribeirão Preto.
Atualmente, os assentados criaram uma cooperativa, a Comuna, para organizarem a produção e os pagamentos aos produtores.
O seu lema é “produzir comida é uma consciência social, não apenas uma atividade mercadológica”.
REDE SOCIAL APROXIMA PRODUTORES ORGÂNICOS E CONSUMIDORES
FOME? SISTEMAS AGROFLORESTAIS E FLORESTAS PODEM RESOLVER A QUESTÃO
EM VEZ DE REMÉDIOS, MÉDICO RECEITA…ALIMENTOS ORGÂNICOS
Fonte: Campo Aberto, Globo Rural, maio 2017 (revista impressa)
Categorias: Alimentar-se, Produtos Orgânicos
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