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Nos últimos meses, os brasileiros têm sentido o bolso pesar com a conta do supermercado. Não apenas a carne subiu vertiginosamente, como outros itens alimentícios estão com os preços mais elevados.
Parece que esse dado não é apenas uma onda, mas uma tendência mundial, segundo o índice de preços alimentícios da FAO (órgão da ONU para a alimentação e agricultura). Um relatório do banco Nomura alerta que a era dos alimentos a preços acessíveis pode estar com os dias contados.
Como informou Denis Drechsler, responsável pela Divisão de Comércio e Mercados da FAO, ao El Pais:
“Parece que se chegou a um ponto em que os preços já não são sustentáveis para os produtores”.
Embora a comida seja um item básico para a sobrevivência de qualquer ser vivo, a lógica do mercado parece não se importar muito com isso, pela observação de Drechsler. Tanto que o cálculo feito por produtores é de que, nos últimos 120 anos, os alimentos sempre foram baratos, ou seja, pelo efeito da inflação, em termos reais, o preço dos alimentos estaria com 45% de defasagem, “gap” que passou em revista nesse mês de novembro com a elevação dos preços dos alimentos.
Falando em mercado internacional, a China determina a economia de todo o mundo. E não é diferente quando o assunto é alimentação. O gigante asiático acaba de ser afetado por uma peste africana que arrasou com o rebanho suíno do país, levando ao sacrifício milhões de animais. Isso fez disparar o preço da carne de porco no mundo, respingando aqui no Brasil, que passou a exportá-la para a China e, consequentemente, provocou a elevação do preço do produto no mercado interno. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, registrou que o preço da carne teve aumentou de 8,09% em novembro. Ou seja, a carne transformou-se em um produto de luxo, mesmo o Brasil sendo um dos maiores produtores do mundo.
Drechsler avalia que as incertezas nos mercados é um dos fatores que explica a alta, bem como o aumento da demanda por proteínas em países em desenvolvimento, como a China e os países dos continentes africano e latino-americano. É a famosa lei da oferta e da procura: a demanda aumenta e a oferta cai, elevando, portanto, os preços. De acordo com Drechsler:
“Os consumidores chineses querem carne. E se não houver porco, procurarão alternativas como o frango, [outras] aves e a carne bovina”.
Além do aspecto econômico, as mudanças climáticas também interferem no preço dos alimentos, embora em proporções menores. Ainda não fomos atingidos, em nível global, por um desastre natural que causasse um grande impacto na produção de gêneros alimentícios, mas essa variável tem sido cada vez mais considerada pelos produtores.
O relatório do Nomura é categórico: “Preparem-se para a próxima alta nos preços da comida”. Rob Subbaraman, chefe de Pesquisa Global no Nomura, explica que:
“O aquecimento global gera episódios climáticos cada vez mais extremos. Até agora tivemos a sorte de que os desastres naturais não tiveram um grande impacto na agricultura, mas há um risco crescente de que estes desastres afetem os países produtores”.
Desse caldeirão, onde dentro os ingredientes são a guerra comercial travada por Donald Trump com a China, a peste suína neste país, incêndios na Austrália, aumento do preço da cebola na Índia, os possíveis efeitos na agricultura causados pelo aquecimento global, dentre outros, a FAO prevê um risco alto de o preço dos alimentos subir.
A questão é que a sanha dos produtores por ganhar dinheiro com alimentos pode gerar uma horda ainda maior de famintos no mundo.
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Categorias: Alimentação, Alimentar-se
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