O carboidrato é o elixir da juventude nesta ilha japonesa


O carboidrato é considerado o maior vilão das dietas. Geralmente, ele é o primeiro a ser cortado da lista de alimentos proibidos que contêm essa fonte de energia. Entretanto, há um lugar no mundo onde esse macronutriente é o segredo da longevidade de seus habitantes.

Nas ilhas japonesas de Okinawa, localizadas no Mar da China Oriental, existe um “elixir da juventude”. Os seus habitantes senis têm a maior expectativa de vida do mundo. Mas não apenas isso: eles passam a maior parte de suas vidas em ótimas condições de saúde. Impressiona o número de pessoas centenárias: para cada 100 mil habitantes são 68 que chegam aos 100 anos.

A razão da qualidade de vida dos habitantes de Okinawa é uma dieta rica em carboidratos e pobre em proteínas. Cientistas, há anos, vêm tentando entender o fenômeno e chegaram a tal conclusão. A alta concentração de carboidratos ingerida pela população de Okinawa, sobretudo oriunda da batata-doce, seria a causa de sua longevidade.

De acordo com Samantha Solon-Biet, pesquisadora em nutrição e envelhecimento da Universidade de Sidney:

“É exatamente o oposto das atuais dietas da moda, que sugerem muita proteína e pouco carboidrato”.

Menos proteína

Embora populares, não há muitas evidências científicas de que dietas com alto teor de proteínas tragam efetivamente benefícios a longo prazo. A “proporção de Okinawa” (10:1 carboidrato para proteína) poderia ser o segredo para uma vida longeva e saudável?

Essa é uma hipótese que está sendo analisada por cientistas, já que uma dieta com bastante carboidrato e pouca proteína fisiologicamente nos protegeria de doenças relacionadas ao envelhecimento, como câncer, doenças cardiovasculares e Mal de Alzheimer.

O que chama atenção é que os idosos de Okinawa não sofrem até a morte, por atrasarem os efeitos naturais do envelhecimento, uma vez que cerca de dois terços deles vivem de forma independente até os 97 anos. Esses idosos parecem imunes a doenças cardiovasculares, além de apresentarem taxas reduzidas de diabetes, câncer e demência.

Há de se considerar também um certo “purismo” genético dos povos de Okinawa, já que vivem de forma praticamente isolada. Logo, a variável genética APOE4, que aumenta o risco de doenças cardíacas e Alzheimer, é reduzida no perfil genético dos habitantes. Além disso, eles teriam uma tendência maior de manter uma variável protetora do gene FOXO3, que regula o metabolismo e o crescimento celular. Fisicamente, ele resulta em uma estatura mais baixa e, organicamente, menos risco de várias doenças relacionadas ao envelhecimento.

Os cientistas acham pouco provável que apenas o fator genético esteja relacionado à longevidade e à boa saúde da população de Okinawa. Eles creem que o estilo de vida também seja um fator importante. Os habitantes das ilhas não apenas ingerem uma quantidade significativa de carboidrato, como também fumam menos e são fisicamente ativos. Por viverem de forma isolada, mantêm uma vida sociável durante a velhice. As conexões sociais ajudam a reduzir o estresse e melhoram a saúde.

Fonte de saúde

É sabido que, na Ásia, o alimento mais consumido é o arroz. Mas nas ilhas de Okinawa não: é a batata-doce. Os okinawanos ainda se alimentam de legumes, verduras, produtos derivados da soja, variedades de carnes – embora estas representem um grupo pequeno de sua dieta.

Basicamente, a dieta desse povo é restrita em calorias. Algumas correntes científicas acreditam que uma dieta pouco calórica seja benéfica porque informaria às células que gastem menos energia para preservar e manter, e não crescer e reproduzir. Solon-Biet vem estudando a redução de proteínas e o maior consumo de carboidratos em outras espécies. A conclusão de seus estudos é que a longevidade e a redução de traços de envelhecimento cerebral estariam relacionadas a esse tipo de dieta. A cientista apresenta outros estudos que apontam para conclusões similares:

“Outras populações longevas também tinham padrões de dieta com quantidades relativamente pequenas de proteína. Entre elas estão os kitavanos, que vivem em uma ilha pequena na Papua Nova Guiné, os tsimane da América do Sul e populações que consomem a dieta mediterrânea”.

Uma outra pesquisadora, Karen Ryan, bióloga-nutricionista da Universidade da Califórnia, aponta que uma menor quantidade de aminoácidos pode fazer com que as células reciclem material velho, e não sintetizem novas proteínas:

“Juntas, essas mudanças podem prevenir o acúmulo, ligado ao envelhecimento, de proteínas danificadas nas células”.

Para Ryan, não significa que a ingestão de proteína deva ser restringida. Ela explica que em cada etapa da vida a nutrição varia. Também é preciso considerar a qualidade da proteína e do carboidrato ingerido. Em relação aos moradores de Okinawa, ela acredita que a longevidade e a saúde sejam uma confluência de vários fatores e de interações específicas entre eles.

Carboidrato à noite

Uma pesquisa recente afirma que comer macarrão não engorda e faz bem. Contrariando todas as teses, pesquisadores do Brigham and Women Hospital, em Boston (Estados Unidos), defendem que o macarrão no jantar não só não engorda como ajuda a dormir. Ou seja, é uma boa notícia para quem sofre de distúrbios do sono.

É claro que a quantidade indicada para comer macarrão à noite é pequena: 80 gramas. Deve-se evitar molhos gordurosos que levam bacon, carnes gordas, creme de leite e queijos amarelos. Uma porção pequena de macarrão com molho de tomate, abobrinha e outras verduras grelhadas, aspargos, espinafre e outros legumes está liberado!

Dietas da moda, em geral, não mudam a nossa forma de se alimentar. Uma alimentação saudável, livre de produtos industrializados, e uma vida ativa são fontes para uma vida saudável.

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Foto: Sata andagi – um bolinho frito doce típico de Okinawa, feito de farinha, açúcar e ovos.




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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