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No mundo contemporâneo, a relação entre alimentação e saúde vai além de simplesmente saciar a fome. A forma como nos alimentamos desempenha um papel fundamental na determinação da nossa saúde física e mental a longo prazo. No entanto, há um fenômeno insidioso que permeia muitas sociedades modernas, minando silenciosamente a saúde de milhões: o nutricídio.
O nutricídio é um fenômeno preocupante que afeta muitas pessoas. Neste conteúdo, exploraremos o que é, suas causas e como combatê-lo, visando uma sociedade mais saudável.
O termo nutricídio foi cunhado pelo médico norte-americano Llaila O. Afrika, autor do livro “Nutritional Destruction of Black People: Nutricide“, ainda sem versão em português. Esse termo também é conhecido como genocídio alimentar.
Nesse livro, o Dr. Llaila O. Afrika utiliza o termo nutricídio em referência à dificuldade, ou falta de acesso, a alimentos saudáveis que deveriam fazer parte da cultura alimentar, incluindo as consequências que isso traz à saúde.
O termo nutricídio também é associado às pessoas negras, por serem as mais afetadas em consequência da cultura imposta pelos colonizadores dos países africanos, que influenciou a alimentação desses povos, afastando-os de sua cultura alimentar. No Brasil, isso não foi diferente. Entre as influências, temos o amplo uso de farinha, sal e açúcar em nossa alimentação.
Outro ponto relevante apontado pelo Dr. Llaila O. Afrika em seu livro é o fato de pessoas negras terem maior acesso a alimentos de baixo valor nutricional, como os ultraprocessados, em detrimento daqueles in natura e minimamente processados, como frutas, legumes e verduras. Segundo ele, o racismo estrutural é a grande causa por trás desse cenário.
O nutricídio diz respeito à impossibilidade da classe desfavorecida de acessar alimentos com alto valor nutricional. Isso é reflexo de diversos fatores culturais, econômicos e sociais.
No cenário atual do Brasil, onde enfrentamos fome e uma alimentação que não nutre, o nutricídio volta à tona como uma questão crítica. A população pobre e negra, seja do nosso país, da África ou de outros países, está particularmente submetida à insegurança alimentar que caracteriza o nutricídio.
O conceito de nutricídio vai além da fome, pois versa sobre a falta de nutrientes, não apenas da comida em si. É uma consequência contemporânea, especialmente relacionada aos alimentos ultraprocessados, repletos de aditivos e que muitas vezes não são considerados alimentos verdadeiros por especialistas e nutricionistas.
Produtos como biscoitos recheados, salgadinhos de pacote, refrigerantes, macarrão instantâneo, processados e outros, embora possam saciar a fome, não oferecem os nutrientes essenciais para uma alimentação saudável.
A substituição de refeições tradicionais por esses produtos é um dos principais fatores que contribui para o nutricídio. Vale ressaltar que a culpa não recai sobre as pessoas que fazem essa substituição, mas sim sobre toda uma cultura e indústria que promovem o consumo desses produtos através de estratégias enganosas e ilusórias.
Abordar o nutricídio é importante para alertar sobre a desnutrição, problemas de saúde e até morte causados por uma dieta inadequada ou deficiente em nutrientes essenciais para a saúde. Embora a palavra possa parecer dramática, sua utilização destaca a importância crítica da nutrição adequada para a saúde e o bem-estar.
Existem várias causas associadas ao nutricídio, que podem incluir:
Acesso limitado a alimentos saudáveis devido a questões econômicas, geográficas ou sociais, resultando em dietas desequilibradas e deficientes em nutrientes.
Consumo excessivo de alimentos processados, ricos em gorduras saturadas, açúcares refinados e sal, e baixo consumo de frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas saudáveis.
Falta de conhecimento sobre hábitos alimentares saudáveis e como escolher alimentos nutritivos, levando a escolhas alimentares prejudiciais.
Promoção agressiva de alimentos ultraprocessados, muitas vezes ricos em calorias vazias e pobres em nutrientes essenciais.
O nutricídio vem ocorrendo gradualmente ao longo do tempo, à medida que a ingestão inadequada de nutrientes compromete a saúde do corpo. Com isso, deficiências nutricionais podem levar a uma série de problemas de saúde, incluindo:
Essas condições, se não tratadas, podem ter consequências graves e até fatais.
Para combater o nutricídio e promover uma alimentação saudável, são necessárias ações abrangentes em diferentes níveis:
Promover a educação sobre alimentação saudável desde a infância, ensinando habilidades de preparação de alimentos, leitura de rótulos nutricionais e conscientização sobre os benefícios de uma dieta equilibrada.
Órgãos públicos envolvidos com a alimentação precisam garantir que todos tenham acesso a alimentos frescos, nutritivos e acessíveis, incentivando a produção local de alimentos e a disponibilidade de mercados de agricultores em comunidades diversas.
É necessário que os governos implementem políticas que limitem a publicidade de alimentos não saudáveis, regulamentem os ingredientes dos alimentos processados e incentivem a reformulação de produtos para torná-los mais saudáveis.
Os cidadãos e as empresas podem fomentar iniciativas comunitárias, como hortas urbanas, cozinhas comunitárias e programas de alimentação escolar saudável, para promover uma cultura alimentar mais consciente e inclusiva.
Litz Gouvea, catadora, educadora ambiental e vegana, explica sobre a importância de buscar uma alimentação fresca, natural e saudável, neste vídeo publicado em sua página:
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Ao abordar esses aspectos, podemos trabalhar para reverter o nutricídio e promover uma sociedade mais saudável e equitativa (justa e igual), na qual todos tenham acesso a alimentos nutritivos e oportunidades para viver vidas longas e prósperas.
Fontes:
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Categorias: Alimentação
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